sexta-feira, 10 de abril de 2015

Uma história

Segurava o timão com força, com os pés plantados no chão do jeito seu velho pai lhe ensinara, enquanto a tempestade castigava os cascos de madeira, que estavam completamente encharcados. O vento fez com que fosse necessário recolherem as velas e estavam à mercê das ondas, que levantavam o navio num ângulo de cinquenta graus, e parecia que era o horizonte que estava girando ao seu redor. Alguns marujos já haviam caído na água, mas os que sobraram pareciam estar focados.
- Amarrem os braços nas cordas, cães sarnentos! - Gritou.
Já não tentava mais navegar, apenas controlava o navio o máximo possível, que era muito pouco, para não serem virados por uma onda. Tinha que encará-las de frente ou todos morreriam.
- Segurem! Essa é grande! - Alguém gritou, mas com o vento e a chuva era impossível identificar o rosto de alguém a dois metros de distância. Só sabia que o navegador rezava fervorosamente ao seu lado.
- Tomara que tu estejas rezando para o deus certo. - Disse, quando percebeu o tamanho da onda que se agigantava à sua frente. Teve a impressão de que o próprio mar estava trocando de posição e já não sabia se estava descendo ou subindo, se o mar era a onda ou a onda era o mar, e pensou: "se eu sair dessa, nunca mais bebo rum! E chega de prostitutas!". Gritou outra vez:
- Amarrem-se, malditos! Pelo amor de deus, amarrem-se!
O impacto não foi tão forte, porém a gravidade começou a mudar. De repente, seu corpo não era mais atraído para baixo, mas para trás, enquanto o navio subia naquele colosso. Quando os pés não tocavam mais o chão e seus únicos contados com o navio era as mãos no timão e a corda amarrada em seu braço esquerdo, chorou. Um relâmpago iluminou o rosto de seus marujos, e viu que também choravam. Mesmo com as faces molhadas pela chuva e vento, era fácil identificar um homem chorando. O pavor em seus olhos era nítido como a luz do Sol.
Quando chegaram ao topo da onda, olharam para o Capitão com medo quando ouviram-no gritar:
- Agora vem a parte difícil. Preparem-se! E que os inferno congelem, mas não caiam do navio!
A velocidade que o navio atingiu ao descer a onda quebrou o mastro principal na metade e era possível ver alguns pedaços de madeira se desprendendo do casco. As gotas de chuva parecia pesar quilos, e assolavam todo o seu corpo. Se fosse uma de suas primeiras viagens, certamente suas mãos já não aguentaria mais segurar o timão.
- FORÇA! - Gritou o capitão, momentos antes do fim da onda.
O impacto foi pior do que pensara. Foi arremessado com tanta força contra o timão que perdeu o ar e quase totalmente os sentidos. Já não segurava mais o timão. Sua única esperança era a corda em seu braço esquerdo, pois o navegador já havia sumido. Pelo jeito não era o deus certo.
Tentou se levantar, usando o timão como apoio até ficar de joelhos, e se sentiu grato. A maioria de seus homens ainda estavam ali, alguns inconscientes, presos apenas pelas cordas em seus braços. Sorriu, mas seu sorriso não durou muito tempo, pois um perigo maior se aproximava, o mesmo que havia subjugado seu pai, o maior pirata que havia existido, e agora era sua vez de encará-lo.

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